" No limite de cada liberdade há uma sentença; é por essa razão que a liberdade é tão difícil de aguentar, principalmente quando se está tomado pela febre, ou em desgraça, ou não está amando ninguém.” Fassbinder
Já dizia o filósofo que o “homem sofre por desejar o que não pode alcançar”. Mas e o que é sofrimento? O que move a vida senão uma constante busca, o desejo, a luta por aquilo que pensamos ser o melhor, o nosso pedaço de paraíso?
Entendo que não haveria razão para viver se ficássemos no piloto automático, máquinas alimentadas por uma função a realizar, um papel a cumprir.
Viver é certamente buscar novos horizontes, desejar algo e nos movermos nesta direção. É o que nos anima. Se perdermos o foco, a motivação, também perderemos o prazer pela vida.
Não tenho título de filósofa, mas penso, portanto, não consigo aceitar passivamente a desistência dos sonhos e o esquecimento das fantasias. Pode ser até muito bacana esse negócio de levar uma vida ascética, isenta de desejos e ansiedades, livre das pressões do mundo moderno. Mas isso é para aqueles que já atingiram o Nirvana, não para simples mortais, fadados às intempéries que a vida oferece a cada dia.
Se sonhar e não alcançar é sofrimento, precisamos pagar o preço. É o processo civilizatório, já dizia Freud há muito tempo, antes mesmo do surgimento de tantas misérias humanas que são oferecidas todos os dias como “espetáculo” aos nossos olhos.
Seria estranho passar pelas fases da vida, para logo adiante nos acomodarmos perante os obstáculos. Então para que viver? Por que sonhar?
Esse tipo de ideia faria com que o mundo perdesse seus inventores, inovadores, não teríamos a cura de diversas doenças, as novas tecnologias, não precisaríamos contar as histórias, pesquisar livros e biografias. Para quê?
Todas as vezes que acontece uma tragédia como a recentemente divulgada em todos os jornais, nos perguntamos onde foi que erramos? O que leva alguém a cometer um crime de tamanha dimensão? Quantas famílias e amigos enlutados, quantos sonhos desfeitos?
Lógico que neste momento surgirão as mais diversas análises, hipóteses e teorias para o que aconteceu. Qualificarão o rapaz, cabelos de fogo(estranha metáfora) de monstro, psicopata, paranoico, sei lá mais o quê. De dolorosamente concreto a tristeza pela perda de pessoas amadas, de vidas tragicamente ceifadas, sorrisos que não mais se abrirão. Estarão encantados para sempre e, como diz o Tutti Maravilha, viraram “estrelas”. Talvez seja o único consolo para os que ficaram.
Aquele que empunhou as armas “não estava amando ninguém”, portanto, em desgraça. E esta é a sua sentença. Talvez tenha parado de sonhar, desacreditou do mundo, do amanhã,. Deixou de ver a beleza das flores, das noites de luar. Dedicou-se às armas, à estratégia de guerra, a semear o luto. Ficou “perdido de armas na mão”.
Que a dor dos que ficaram e a ausência dos que partiram, consiga fazer com que cada um de nós reflita sobre o nosso papel nesta vida. Semear flores, plantar sorrisos, dividir ternura, não é uma utopia. É preservação da espécie humana.