sábado, 5 de janeiro de 2013

A dor do inevitável

   Vivemos na corda bamba. Inegavelmente. O problema é que  negamos esse fato com todas as nossas forças. Só nos  damos conta da nossa impotência  quando o inevitável bate à nossa porta. Pretendemos  entender "quase tudo", mas há momentos que não conseguimos explicar, ou mesmo aceitar.  A vida é muito estranha, e o pior,sempre nos deixa órfãos: de amigos queridos, pessoas amadas, colegas, parentes, ou simplesmente conhecidos. Convivemos com as pessoas, participamos de sua  alegria, sucessos ou fracassos, às vezes de algumas tristezas,  mas não sabemos quando se dará a despedida.  Não sei se isso é bom ou ruim.  Sei apenas que a morte de um ente querido, de um colega ou amigo  nos deixa uma sensação de vazio, de falta, solidão e vulnerabilidade. Vem  aquela impressão dolorosa  de que deixamos de dizer ou fazer alguma coisa, faltou um gesto de carinho, um pouco de atenção. Ficamos em débito com os que se vão. E o que é pior,com  a certeza de que nunca mais poderemos quitar a nossa dívida. Há um belíssimo poema de  Augusto Frederico Schimidt que diz:

"Os que se vão, vão depressa.
Mais depressa que os pássaros que passam no céu,
Mais depressa que o próprio tempo,
Mais depressa que a bondade dos homens,
Mais depressa que os trens correndo nas noites escuras,
Mais depressa que a estrela fugitiva,
Que mal fez um traço no céu."


As pessoas passam pela nossa vida. Rapidamente.  É como na música. Há encontros e despedidas. A grande questão é que algumas despedidas  não  deixam a esperança do reencontro. O adeus  é definitivo. E nem mesmo a análise,  a filosofia,a religião(aquela que religa), a crença de que existe uma outra vida e  outras dimensões, conhecimento  místico ou a presença de outros amigos,  nos prepara para este momento.  Essa coisa de "elaborar o luto" parece fácil. Conversa de psicanalista e do povo que gosta  de encontrar explicações  para  as nossas perdas. Mas  o que ouvimos, o que as pessoas tentam nos dizer e  o consolo da fé,não dão conta de substituir alguém . É fácil quando acontece com os outros. Temos palavras maravilhosas para consolar, acreditamos que nosso abraço acalenta e que nossa presença pode diminuir  o sofrimento. Ledo engano.  Apenas o tempo "entorpece" a dor. Ela   continua ali,nos subterrâneos da  alma,  pronta para emergir  e nos detonar a qualquer momento, a qualquer lembrança: velhas fotografias, cartões amarelados, guardados numa gaveta qualquer, uma conversa, uma piada,  um comentário.  Nos preenchemos com as lembranças e nos esvaziamos com a ausência. E mesmo assim precisamos continuar o  caminho, até que chegue a nossa vez. Até que nós também nos tornemos lembrança para as pessoas. E é exatamente por isso  que precisamos rever alguns conceitos. Vivemos numa sociedade que cultiva o material, o ter, o consumo. Nos preocupamos com as contas do fim do mês, com o salário que nunca dá para nada, os filhos na  escola, a violência diária, o noticiário na tv. O que estamos vendo ou fazendo é sempre mais importante do que algo que  alguém tenha a nos dizer. Ousamos pedir um tempo, impacientamo-nos com o incômodo. As pessoas podem esperar. Escondemo-nos atrás de nossos celulares, fones de ouvido. Falamos com os amigos pela internet e sites de relacionamentos. Temos inúmeros amigos virtuais e poucos reais. Compartilhamos fotos, imagens, contamos do nosso dia a dia, nossos feitos e viagens. Curtimos páginas e mais páginas, bisbilhotamos o que eles fazem, comentamos,copiamos e fazemos questão absoluta de demonstrar que estamos "antenados".  É mais fácil assim.Evita o olhar que muitas vezes consideramos invasivo. Evita cobranças,pois sabemos o   quanto somos falta na vida das pessoas,  nessa corrida desenfreada para tentar alcançar o tempo.   Esquecemos que um gesto de carinho, um sorriso, ou uma palavra, por mínima que seja pode fazer  alguém feliz. Mesmo que por apenas um momento. 
   Precisamos fortalecer nossos laços,  de mais abraços, de passar mais tempo com os que amamos. Precisamos sim, e muito,  das pessoas na nossa vida. Não apenas da forma virtual. De nada adianta a quantidade  de pessoas que conhecemos, se continuamos sendo tão solitários.
   E precisamos saber que elas estão ali ao alcance do nosso amor, afeto, de conversa jogada fora, bate papo numa esquina, dividir o último pedaço de doce, rir das  coisas mais bobas do mundo;  de um telefonema dado na hora mais imprópria, mas que o amigo perdoa, por saber da nossa ansiedade. Precisamos admitir que sozinhos, somos um imenso vazio e demonstrar para as pessoas, enquanto ainda há tempo,  o quanto nos importamos, pois não sabemos quando não mais estarão conosco no mesmo caminho.




  

Um comentário: