sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Anjos


    O que são anjos? Quem são os nossos anjos e com quantos anjos convivemos em nossa caminhada?
Penso que diariamente eles passam pela nossa vida e não  nos damos conta da sua presença. A  vida é cheia de compromissos, horários, contas a pagar, chateações. A  luta pela sobrevivência não é fácil  e nos transforma em pessoas "pesadas". Não temos tempo para aquilo que consideramos bobagens, crendices, superstição. Aliás, nós não acreditamos a não ser no  que podemos ver e comprovar, afinal, somos racionais e cartesianos. É uma pena, porque agindo  assim perdemos tantas oportunidades. E deixamos de ver tanta beleza. 
   Nesse tempo de primavera, tenho olhado a vida com os olhos da alegria. A cidade está lindamente florida, lindamente colorida. Após a última chuva o verde ficou ainda mais verde, as flores se abriram ainda mais, num gesto de agradecimento. Os ipês então? Eles  estão lindos !!! 
  Olhando tanta beleza,  me lembrei de uma velha música que diz que "Deus é um cara gozador, adora brincadeira". Além de gozador, penso que Ele tem um excelente humor. Sim, bom humor, porque conforme me ensinaram há muitos anos, pessoas bem humoradas são geralmente muito inteligentes e perspicazes. E para criar tudo o que vemos, pincelar com tantas cores e diversidade,  só uma Grande Inteligência. Quando olho os rios que cortam e abrem caminhos, as areias do deserto, as ondas do mar, as montanhas que amo tanto,  só posso acreditar que tudo isso foi criado por uma Mente Superior. 
  Às vezes tento desenhar alguma coisa. Que fracasso! Não tenho talento para tanto. Atribuo à  minha pouca criatividade, digo que não tenho esse dom. Que isso é coisa para os grandes mestres.  Agora imagina desenhar todo o mundo que nos cerca e colorir com tantas matizes. E a diversidade de rostos, de formas? E os sons que ouvimos a todo instante? Devaneando, penso no Pequeno Príncipe: " e eu amarei o barulho do vento nas folhas do trigo". Acho que é mais ou menos isso que ela, a raposa  disse. E que fábula deliciosa....
Eu amo o barulho do vento que balança as árvores, o barulho das ondas que se quebram na areia, o canto de todos os pássaros. Melodia universal. É como se um coro de anjos cantasse lá do alto.
E fiquei pensando nos meus anjos interiores e exteriores. São tantos....
Lembrei-me dos anjinhos barrocos das igrejas de Ouro Preto. Quanto mais próximos da terra, mais humanos, mais próximos do céu, mais etéreos. Quando pensamos em anjos, só conseguimos pensar em beleza, harmonia, leveza. Nossas lembranças são tão boas que nos apegamos à ideia de que eles realmente existem. E isso basta.
   Dias desses soube de  uma história linda: um anjinho que não por acaso tem nome de estrela e de música, foi levado à uma coroação da Mãe de todos os homens. Um anjinho moreno e sapeca, de roupinha cor de rosa e asinhas artificiais. Nas mãos um pequeno cesto com pétalas de rosas que não foram lançadas à homenageada. Elas foram graciosamente ingeridas. Sim, o anjinho comeu-as uma a uma,  com um sorriso que deve ter feito sorrir a Mãe de todos. E penso que Papai do Céu(gosto de chamá-lo assim, bem íntimo), lá do alto,  deve ter sorrido também. E de muito bom humor. Viu seu anjinho fazendo uma estripulia  e ficou muito feliz. Mandou-a para cá com certeza,  para tornar nossos dias mais leves, mais coloridos e cheios de alegria. E ela, nesses quase dois anos de vida,  tem cumprido maravilhosamente o seu papel. 
  Pensei nos outros anjos que já habitaram e ainda habitam a minha vida. Anjos conhecidos e desconhecidos. Os que cruzaram o meu caminho da maneira mais inusitada, os que encontrei de maneira inesperada. Anjos que me ensinaram a olhar as estrelas, as primeiras letras, me ensinaram os números. Anjos que me puxaram a orelha para que eu não tomasse a direção errada. Anjos que eu aprendi a amar e que tornaram minha vida mais suave. Anjos companheiros, que dividiram tarefas, tornaram a carga menos pesada. 
  Há ainda outros tipos de anjos, estes também muito especiais: anjos peludos, focinho gelado, que demonstram seu amor incondicional, seu carinho e confiança. Não importa se não estamos bem, nem dispostos à brincadeiras. Esses anjos não guardam mágoas,ao contrário, perdoam-nos a todos os momentos e não fazem cobranças. Apenas dão carinho. Tive o privilégio de ter um na minha vida um anjo muito fiel, o melhor amigo. Esse anjo peludo e alegre respondia pelo nome de Bito. E deixou tanta saudade... Também habitou a minha casa e a minha vida,  outro anjo, um anjo felino, ao qual demos o  nome de Ximbicola. Veio, adotou a casa e a família e quando bem quis foi embora. Prefiro pensar assim, que ele foi embora  da mesma maneira que chegou. Suave e inesperadamente.  Não quero pensar que pode ter sido levado pela crueldade de alguém que não sabe amar, pois, quem não sabe amar as criaturinhas de Papai do Céu, certamente não sabe amar a mais ninguém. Mário Quintana, nosso poeta brincalhão,  entendia muito de anjos. Ele era  um anjo que sabia precisar de outros para poder voar. Um anjo que brincava com as palavras  e que agora, com certeza, anda flutuando pelo infinito, fazendo poesia nas nuvens.
Pois é, a minha vida está povoada de anjos. E a sua??? Talvez, e acho que não por acaso, eles estão até no meu nome: Anete Rodrigues dos Anjos



segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Surreal

Imagens e sonhos

magia
miragem.
Imagens e sonhos
agem
perfazem
desfazem.

Sonhos
interagem
itinerário subjacente.
Imagem
Espectros
Viagem.

Sonho
fantasia e  liberdade
surrealidade.
Inconsciente ou
consciente,
irrealidade.
.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Do outro mundo

Fantasmas existem ? E alma do outro mundo? Será que alguém pode ver gente que já se foi? 
Não sei se é verdade, se fantasia ou fruto da imaginação de uma criança, se é história que o povo vem contando e aumentando com o passar do tempo,  mas o certo é que fiquei sabendo do "causo" por gente de confiança, daquele tipo que não inventa, não comenta e de tudo suspeita. Mais ainda, a pessoa que contou o causo, afirma que é verdade verdadeira. Vou contar também,  do jeitinho que ela me contou  há muito tempo. Se omitir alguma coisa é porque a passagem dos anos cobra seu preço, e a memória não é mais fiel aos fatos. Posso até deixar de contar algum detalhe importante, mas podem  crer que eu também não estou aumentando nada no conto. Nem um pontinho, mesmo porque, a amiga que me contou é pessoa de respeito. Senhora de cabelos brancos, avó de muitos netos. Ela me segredou que conheceu uma menina que  era bem diferente.Uma estranha. Não gostava das brincadeiras de criança, vivia perto dos adultos, ouvindo, aprendendo, observando. Quase não saía de casa,  só falava quando alguém mais velho autorizava, era ajuizada, prendada e extremamente religiosa. Sempre que acontecia alguma coisa, ela falava: é a vontade de Deus. Minha mãe  me ensinou isso. E ao  ao falar,  se benzia.  Estranhavam o fato de alguém tão jovem ser  tão sensata, tão resignada e aparentar  tanta fé.  Ficara órfã muito cedo. O pai aparecera com uma  febre forte ao voltar da lavoura. Deitou  para não mais levantar,  e poucos dias depois morria, deixando  muitos filhos e uma viúva. Não deixou nada além daquele pedaço de terra. Nenhum recurso que garantisse o sustento de família tão numerosa. Eram paupérrimos.
 A menina mais velha foi levada para a casa daqueles parentes distantes. Precisava trabalhar para ajudar no sustento da família e, naquele lugar tão  carente de recursos, não havia onde ela conseguir algum dinheiro. Portanto, a pedido da mãe,  foi recebida na casa dos parentes abastados. Seria tipo uma cria da casa, porém, em troca de um pequeno salário, uma ajuda para a mãe,que ela enviaria no final  de cada  mês. E ainda teria  cama para dormir, alguma roupa, mesmo que fosse usada.
De repente ela se viu longe de casa, numa cidade que nem sonhava existir.  Nunca havia calçado sapatos, jamais viajara, não sabia ler, tudo o que sabia era cuidar dos afazeres da casa,  da horta, das criações, e dos irmãos. Seu dia começava bem cedo e pouco descansava.  Só à noite, quando se recolhia em sua rede podia sonhar acordada. Sua vida, desde muito cedo sempre fora:  Em primeiro lugar sempre,  as obrigações. O resto vinha depois, se sobrasse tempo.
A primeira vez que viu a cidade grande, ficou muito assustada. Quantos carros, quanto movimento. Dava medo atravessar as ruas tão movimentadas. E a casa dos parentes então? Aquilo não era  só uma casa. Era um palácio. Muito  maior do que a  a maior e melhor de todas as casas  do seu torrão natal. Mais ainda,a  sua casinha lá no interior era de chão batido, aquela ali era um luxo só, cheia de vidros, enfeites, coisas que brilhavam como  ela nunca tinha visto. E o automóvel?  que "belezura". Dava gosto escutar a buzina, passar a mão pelos bancos macios. Colocaram-na num quartinho dos fundos, ao lado da cozinha, mas , para ela, era um verdadeiro paraíso: tinha cama com colchão e lençol, um armarinho onde podia guardar seus poucos pertences, um  espelho(na sua casa não havia nenhum) e cortina florida na janela. A dona da casa, aquela que era parente distante, já foi logo falando que  partir daquele dia,  ela ficaria por conta da criança, um meninozinho dos seus três anos, birrento e chorão. Estranhou o fato de não ter de cuidar da horta, da cozinha, da arrumação da casa. Contaram que aquilo era tarefa para os outros  empregados. Bastava ela cuidar do menino. Se fosse boa para o menino, a patroa ficaria satisfeita. Se ele reclamasse de qualquer coisa, nem precisava achar que por ser parente, mesmo distante, a madame perdoaria.  Mas eu posso ajudar,  dizia sempre, não custa nada.  Na minha casa eu olhava todos os meninos e dava conta. Assim, quando o menino dormia, ela se dispunha a fazer outras coisas: Ajudava na cozinha, limpava os banheiros, espanava. Nenhum trabalho era pesado para ela. E ainda ficava agradecida. Ali  havia muita fartura, o povo era sempre muito bom. Nem parecia que ela era uma parente pobre vinda do interior.
E a dona da casa, a mulher "chique" que todos chamavam de madame, parecia saída daquelas revistas que de vez em quando ela via espalhadas pela casa. Vivia nos trinques, cheia de joias e de salto alto. Mas também, até  ela, caipira vinda da roça, já estava  parecendo  gente rica, com toda aquela roupa  no armário, aquele sapato que apertava seus pés, mas que era bonito feito ele só. E as fitas coloridas para amarrar no cabelo? E o melhor de tudo era saber que o que ganhava  era o suficiente para ajudar  a mãe a alimentar e vestir seus irmãos. Imaginem quando a mãe visse aquilo tudo. Ia achar que ela era uma princesa. Ah, a mãe....Sentia tanta saudade, ficava lembrando dela, sentada na máquina de costura, a filharada toda ao redor. A saudade doía muito,  mas, sabia que ainda não podia voltar. Um dia talvez, quando os irmãos crescessem e todos pudessem trabalhar. Sabia que agora   era uma boca a menos para a mãe sustentar. E se consolava  contando o tempo,  esperando a chegada do Natal. A madame dissera que nesta data, alguém poderia levá-la lá na roça. Iria rever a mãe, abraçar seus irmãos, visitar velhos conhecidos.  Só essa esperança  já era um alento. Levaria um montão de presentes, e muitos doces para os irmãos.
Seu único passeio era  frequentar a igreja que ficava em frente à casa. Gostava de ver os santos, ajoelhar-se próximo ao altar. Ia  à missa todos os domingos, já fizera amizade com o padre, ajudava na limpeza da igreja, ajudava após a missa  do domingo. E todos os dias repetia o mesmo ritual:   ia  à sacristia para pedir a bênção. Saia dali feliz e sentindo-se protegida.
Numa tarde  de quinta-feira, após o menino dormir, como de costume, ela foi para a igreja. Aproximou-se dos santos, fez suas orações. Àquela hora, sabia que o padre estaria na sacristia,  cumprindo seus afazeres. Depois que conversasse com os santos, iria lá. O velho padre sempre falava as mesmas coisas: perguntava pela mãe, pela saúde de todos, falava para ela continuar sendo uma boa menina. Depois dava a sua bênção e voltava para suas obrigações. Assim pensando, ela levantou os olhos para o altar. Estranhou não ter visto logo ao entrar,  aquele padre  que celebrava missa para a igreja vazia. Teve a impressão que já o tinha visto em algum lugar, mas onde? Nunca fui a lugar nenhum. É da casa para a igreja e da igreja para a casa.  Eu hem, pensou, nunca vi missa a esta hora. Que padre diferente, e que roupas estranhas. Vou até o padre João pedir sua bênção e vou logo embora. Esquisito um  padre rezar missa para ninguém. Se bem pensou, melhor fez. Encaminhou-se para a sacristia e lá encontrou o velho pároco, debruçado sobre alguns papeis . Padre, a sua bênção, e beijou as mãos que o sacerdote lhe oferecia. Mas a necessidade de falar era maior do que o temor da reação do velho padre. Então,  ela foi logo perguntando quem era o padre que estava celebrando missa para ninguém. Que é isto menina, deu para inventar histórias?. O único padre aqui sou eu, e se  eu estou aqui na sacristia, está claro que não poderia estar lá celebrando missa, ainda mais neste horário. Que ideia estranha, menina, de onde você tirou isto? e como pode pensar que eu vou acreditar em tamanha besteira. Padre, minha mãe me ensinou a nunca mentir, principalmente para o padre, porque é pecado. Se o senhor está duvidando, vamos lá até o altar que o senhor vai ver. Agora a missa já deve tá quase acabando. Pois sim , disse o padre, vou mesmo e você vai se arrepender de ficar aí inventando histórias. Quando chegaram, o padre já estava tirando os paramentos. Sorriu e levantou as mãos num gesto de bênção. Padre João caiu de joelhos, olhos cheios d'água. Obrigou a menina a ajoelhar-se também. O outro padre saiu naquele momento, desceu do altar e desapareceu instantaneamente pela porta dos fundos. Viu que eu não estava mentindo padre, mas por que é que ele não disse nada?  por que é que ele saiu pela porta dos fundos  e não foi para a sacristia?  Eu poderia ajudá-lo a  guardar as coisas como sempre faço para o senhor. Ele ficou chateado porque eu não fiquei para ver a missa?
 Padre João, agora  em prantos disse:  Menina, aquele  era o padre Sabino, o primeiro padre desta igreja. Você já viu o retrato dele lá na sacristia.  Eu não tenho nada para explicar  para você. Eu também não entendi o que aconteceu. Acho que estávamos sonhando. Deve ser o calor.  Vamos até a sacristia e você vai me prometer que não vai contar isso para ninguém. As pessoas vão pensar que nós somos dois loucos. Ninguém vai acreditar nesta história.  A menina seguiu-o , afinal, para ela  qualquer coisa que o padre determinasse era uma ordem e estava acostumada a obedecer. Quando chegaram,  sobre a mesa de trabalho, havia um retrato antigo, amarelado pelo tempo. Olha,  padre, era ele mesmo. Tá igualzinho.
Isso mesmo, era o padre Sabino. Ele nos deixou há mais de 20 anos e está enterrado nos fundos da igreja. A menina não podia acreditar no que ouvia. Se não fosse o padre João, pessoa tão séria e de respeito que estava falando aquelas coisas, jamais acreditaria. Não acreditava em fantasmas e nem em alma de outro mundo. As pessoas boas quando morriam iam direto para o céu. Ainda mais um padre que já era santo na terra. Que ideia !!. Será que o padre João estava caducando? Ela vira com os próprios olhos o padre celebrando a missa. Viu quando ele desapareceu pela porta dos fundos. Era de carne e osso, tinha certeza. Mesmo ele não tendo conversado com os dois ela ouviu um pouquinho da missa. Não entendera nada pois estava sendo celebrada numa língua que ela nunca tinha ouvido, e o padre João explicou que aquilo era Latim, mas,  agora, falar que ele era um fantasma,  pessoa que já morreu, isso era demais até para ela. Que coisa! Será que eles dois tinham sonhado o mesmo sonho? Será que a saudade da mãe fez com que ela ficasse de miolo mole? mas e o padre? Ele também tinha visto. Que negócio esquisito de falar de gente falecida. Logo o padre, pessoa tão séria.
Beijou as mãos do velho padre e saiu correndo da igreja. Precisava contar aquilo para a tia velha da madame, a pessoa mais entendida e culta que ela já havia conhecido.E não estaria traindo nenhum segredo, apenas queria entender o acontecido . E se ela pedisse,  tinha certeza que o assunto morreria ali. A tia era de pouca conversa.
O certo é que de alguma maneira  esta história é contada ainda hoje, e, há mais de cinquenta anos as pessoas da família juram que é a mais pura verdade.



segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O poder que emana do povo

    As eleições ocupam  o interesse de quase todas   as pessoas.  Vemos  nas  redes sociais  aqueles  que defendem "com unhas e dentes" seu partido e candidato. Postam  fotografias, comentários, criticam , apontam erros e acertos, fazem movimentos para "detonar" o adversário  que consideram não merecedor  do voto do povo;  promovem passeatas, buzinaços, caminhadas, enfim, conseguem mobilizar milhares de pessoas . No horário político, cada um apresenta o que sabe que atrairá o eleitor, promete mais postos de saúde, segurança, melhoria no ensino, acenam com programas para incentivar a construção, desenvolver a cidade. Oferecem um "sonho", enfim, tudo aquilo que em princípio seria a obrigação  dos que desejam um cargo de tal responsabilidade e não um favor ao povo, como em alguns momentos eles deixam transparecer. 
   Ainda ontem,  li e achei muito interessante o que  uma amiga  postou numa rede social:  a sugestão de que todos pudessem defender seus candidatos, seu partido político, mas que não ficassem inimigos por causa disso. Lembrou que a democracia se faz com respeito ao outro e nisto penso eu, está a beleza do poder.Ela  está certíssima,  e  seria muito bom se conseguíssemos respeitar a opinião dos outros, mesmo que esta  fosse contrária à nossa, afinal ninguém é dono da verdade,  e não podemos dizer que este ou aquele é o melhor candidato. É o melhor no nosso ponto de vista. E fim.
    Nós sabemos tudo o que a cidade precisa. Nos apertamos nos ônibus, nas filas do metrô,ficamos presos  nos intermináveis engarrafamentos. E não é de agora. Faz muito tempo.  Quantos morrem por falta de atendimento e de leitos de CTI? E as escolas? Elas vêm oferecendo aos estudantes tudo o que precisam para o seu sucesso escolar?  Oferecem um ensino de qualidade? São lugares seguros? Equiparam-se às escolas particulares, aquelas chamadas "top"? Podemos sair às ruas com tranquilidade sem nos preocuparmos com nossa segurança? Estamos também seguros em nossas casas? Todos têm água e esgoto? moradia digna? E o salário do funcionalismo público? Será que os que estão nos mais altos escalões do poder aceitariam viver com  o salário dos funcionários? Por que será que durante anos e anos, não importa qual partido está no poder as greves por melhores salários sempre acontecem? E as promessas são sempre as mesmas.  Pois é, no discurso dos candidatos, tudo isso está presente,mas...
   Não tenho nada contra a discussão política nem contra os políticos, mas tenho tudo contra os politiqueiros e oportunistas. Considero a discussão  saudável e necessária,  desde que seja feita de maneira respeitosa e ética, pois não podemos jamais nos esquecer que, a despeito da nossa vontade, o poder que  agora vamos  outorgar aos candidatos,  emana do povo-que somos nós, agora objeto do desejo dos  candidatos. Nos sentimos bajulados, adulados, percebidos.  Nosso voto vale ouro -  pois ele dará ao candidato o tão almejado cargo político. O problema é que, superada esta etapa, muitos se esquecem dos verdadeiros detentores do poder e do fato de que estão ali com uma outorga para que possam nos representar.
    Se é uma utopia  acreditar que todos que submetem seu nome ao povo,  realmente estão ali na defesa do interesse coletivo, sem se preocuparem com   os  polpudos salários  que podem auferir em tal função, é  também  tentar ser " mais realista  do que o rei " afirmar  que não existem candidatos que desejam algo de realmente bom  para o povo, que acreditam que têm uma missão a cumprir,  querem  trabalhar pela comunidade, que têm um ideal. Talvez esta descrença aconteça  por sabermos que  os salários da maioria dos políticos no Brasil é astronômico,  quando comparados a um  salário mínimo. E como  o assunto é atualíssimo, andei pesquisando na Web para saber  como funciona a questão nos outros países. Li  que na Cidade do México,  não há salário para vereador; em Estocolmo há  uma ajuda de custo cujo valor representa apenas 10%  da renda de um assalariado sueco(que certamente não é um salário tão mínimo quanto o nosso)  e que em alguns países são escolhidas pessoas que vão representar a comunidade, independentemente de salário. É o que aqui chamamos de voluntários.  E ações voluntárias sempre funcionam bem, basta observar as  diversas entidades realmente filantrópicas que sobrevivem, isto  porque existem cidadãos  que cedem seu tempo, seu  trabalho,  seu momento de lazer para se dedicarem  àqueles mais necessitados. Há alguns dias, vi na televisão a ação de pessoas  que dedicaram seu dia para a reforma de um instituto que atende estudantes cegos. Eles consertaram, pintaram, organizaram, enfim, proporcionaram um ambiente muito melhor aos estudantes do  lugar,  mesmo sabendo que muitos deles não veriam o efeito de seu trabalho. E isto sem muito alarde, apenas pela alegria de servir e o compromisso com o próximo. Vemos exemplos de pessoas que  todos os dias distribuem alimentos nas ruas, outros que fazem corte de cabelos, trabalham em bazares comunitários, ensinam ofícios, fazem enxoval para bebês, enfim, não falta generosidade de  pessoas  que sempre têm um tempo a mais para ajudar a quem precisa. A televisão sabe muito bem disso e já vem premiando e destacando os bons exemplos, ações de cidadania, incentivando o voluntariado.
   Tenho algumas ideias para a seleção de candidatos a cargos eleitorais e que muitos considerariam mirabolantes . Com  certeza elas seriam refutadas,  sob as mais diversas alegações, mas, não seria interessante se houvesse um vestibular para a escolha de candidatos a candidato?  Pensa bem:  um funcionário público para ocupar um  cargo, precisa submeter-se a uma maratona de estudos, provas massacrantes, exames médicos, psicotécnicos etc,etc, etc;  existem cargos que exigem atestados de bons antecedentes, investigação social e sei mais o quê. Que tal se passássemos a exigir dos nossos candidatos mais ou menos isso? Primeiro: atestado de ter sido um  bom filho, porque se alguém não foi bom para seus pais, não  será  bom para mais ninguém. Atestado de ter sido um bom aluno, daqueles que sabiam respeitar seus colegas e professores. Não que eu pense que quando crianças fossemos santos, mas,  desde muito cedo já demonstramos a que viemos nesta vida. Imprescindível uma declaração, assinada por pessoas idôneas de que o candidato é  um amigo solidário, prestativo, "pau para toda obra".  Atestado de  ser um bom vizinho, de ser alguém que respeita a  ecologia, que gosta de animais(principalmente de cães e gatos) , de cuidador comunitário e comprovação de ter sido voluntário em alguma ação de cidadania pelo menos três vezes durante sua vida pregressa. Ultrapassados tais requisitos ai sim, o candidato a candidato estaria "liberado" para submeter seu nome à aprovação do eleitorado.
   Enquanto isso não acontece e creio que jamais acontecerá, sugiro que façamos uma pesquisa sobre aqueles que estamos pensando em dar nosso aval para nos representarem. De onde vem seu interesse pela coisa pública? Ele trabalha ou quer fazer do cargo político um meio de vida? Um jeitinho de "encanar" as pernas.  Se é candidato à reeleição, qual a sua evolução patrimonial? Se está rico, de onde veio o dinheiro? Enfim, basta ler um pouco mais,ficar um pouco mais atento. Um candidato é antes de tudo uma pessoa, alguém com uma história e é esta história que nos dará os fatos que apreciaremos,  antes de dar a ele o sagrado direito de,  em nosso nome exercer algum poder.