quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Quem são os nossos anjos?

“Ninguém aqui é puro anjo ou demônio...”

                                                   Carlos Colla,  Marcos Valle 


 Nos  últimos meses, temos presenciado exatamente o que diz a frase acima: Anjos/demônios digladiando diante das câmeras de TV. Cada um com suas armas e  argumentos, na tentativa  insana de ganhar o voto dos eleitores. Todo mundo perfeito,  tudo no devido lugar, famílias de álbum de fotografia, momentos para emocionar, cativar, seduzir... Poucos têm coragem de mostrar sua verdadeira face, mesmo porque, atualmente o cenário parece o de um ringue de boxe- como tem gente apanhando. E gente batendo também. Os que batem e os que apanham,  justificam dizendo que a melhor defesa é o ataque, pior ainda é quando se colocam numa posição de vítima, quando sabemos que de vítima, ninguém ali tem nada. Pura retórica.
  E o eleitor então? No momento ele é o mais  acariciado, beijado, paparicado, afinal, o voto tem um valor incomensurável.  É   a garantia de um cargo público com as regalias que pouquíssimos brasileiros têm. E  por  ser muito curiosa quanto às questões que envolvem o humano, seus interesses, motivos  e até mesmo até que ponto chega sua dedicação ao outro,  decidi pesquisar quanto ganham nossos candidatos e  pasmem-se: eu também gostaria dessas benesses: além do salário mensal,alguns cargos  têm  ajuda de custo,  auxilio moradia, ressarcimento ilimitado de despesas médicas, verba de gabinete, etc. Ou seja, sonho de qualquer cidadão comum,  tipo professores, aposentados, trabalhadores  da indústria e do comércio, engenheiro, médico, donas de casa, cidadãos comuns,  eleitores(que não têm uma remuneração tão generosa) . Pense bem: são quatro anos sem algumas preocupações, com o único dever de trabalhar  em benefício do povo, ou deveria, pois sabemos que muitos que lá estão se esqueceram de quem é o verdadeiro detentor do poder, conforme estatuído em nossa Carta Magna : "todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido". 
Penso que este exercício de cidadania foi esquecido por muitos que alcançam o tão almejado cargo político, pois certamente o povo não outorgou poder a ninguém para retirar de si direitos tão arduamente conquistados. O povo não pediu para passar fome, para morrer nas filas dos hospitais, ser assassinado nas ruas, vítima da crescente violência. O povo quer ser feliz, ter comida no prato, dinheiro no bolso e o sol de domingo para passear livre na praça. O que ninguém pode esquecer é o que vemos diariamente: denúncias, desperdício do dinheiro público, tramitação de projetos de lei que não saem  das gavetas, uma briga sem fim de siglas e legendas, cada um defendendo seu interesse. O povo, fica para depois, para a próxima... 
   Admito que felizmente ainda  há  gente muitíssimo bem intencionada.  Sem sombra de dúvidas, restam alguns idealistas, pessoas politicamente corretas que respeitam  o compromisso assumido com o povo, utilizam seu tempo em benefício de uma comunidade (seria utopia?), penso que não! Sempre há trigo no meio do joio.  E é exatamente por isto que acredito que um dia conseguiremos transformar e melhorar esta Nação. Basta afastarmos os maus, resgatarmos os bons. E difícil, mas não é impossível. 
   Admito que eu também tenho minhas preferências. Claro.  Torço por alguns candidatos, acredito que eles têm projetos, boa intenção, que realmente estão ali não pelas benesses que o cargo oferece, mas, por terem um ideal, por acreditarem na possibilidade de fazer o melhor.  Assim, torço por sua vitória, analiso cuidadosamente as críticas e não ando espalhando horrores por aí. Também nem precisa, pois, há tanta gente dedicada a tal mister: é teoria disso, teoria daquilo, acusações, denúncias, depoimentos, enfim, uma miscelânea de informações/desinformações que por vezes fica difícil perceber o que é verdade e o que não é. Mesmo porque, já citei acima: "ninguém aqui é puro anjo ou demônio".
  Aprendi há alguns anos, as lições de um verdadeiro mestre na arte da vida: ele dizia que todos têm interesse em alguma coisa. Ninguém consegue ser neutro ou ter isenção total. E na defesa desses interesses usam os mais diversos argumentos. Argumento de autoridade, da própria  credibilidade, amor à  Pátria, família, sociedade, religião. E é ai que mora o grande perigo, eis que, aos menos avisados, pode parecer que tal posicionamento é a mais cristalina verdade e muita gente embarca nessa viagem....
 Outra lição interessante é  quando ele dizia que a melhor maneira de “destruir” uma pessoa é  o chamado “fogo amigo”. Afinal é bem difícil acreditar nas palavras de um inimigo. Ficamos pensando que o adversário tem interesse na destruição, na derrocada do seu opositor e que vai utilizar de todas as armas para atingir seu intento. Mas um amigo, pense bem, um amigo é de fé, é camarada, guardião da alma. Portanto se um “amigo” de repente vira inimigo, certamente é porque o outro não merecia sua dedicação, causou-lhe algum dano, decepção, dor. E traição é algo imperdoável. Estamos sempre tendenciando a nos colocarmos no lugar da vítima, somos especialistas em sentimentos piegas. A  posição de vítima é bastante interessante, já que quase sempre cativa o coração das pessoas. Parece-me que alguns políticos estudaram cuidadosamente esta estratégia. E empregam-na sem a mínima cerimônia. 
  Portanto, meu sábio mestre ensinava que se você quiser  destruir alguém, comece exaltando suas qualidades e seus feitos. As pessoas pensarão que você está sendo generoso, ficarão susceptíveis aos seus comentários. Dê tempo ao tempo, mas vá plantando a dúvida devagarinho, como quem não quer nada.  E quando  chegar o momento certo, quando já tiver conseguido a confiança das pessoas, comece  a apontar os defeitos; um pouquinho hoje, outro tanto amanhã. Ninguém pensará que  você está agindo de má fé ou tentando prejudicar a pessoa, afinal, você passou o tempo todo elogiando, apontando qualidades. Na sua ação não pode existir  má fé, pensarão muitos. Imagina se alguém que tem a qualidade e a capacidade de reconhecer o que o outro tem de melhor, seria capaz de atingir maldosamente a sua imagem?  Maquiavélico não é? Mas é exatamente assim que muitos agem por aí.  E se colocam como vítimas inocentes do acaso. Imagina confrontarmos os anjos com os demônios... É a mesma coisa de "cutucar" nossos medos e pecados tão escondidos.Assim ele dizia, se quer realmente destruir alguém, não o ataque frontalmente, vá minando delicadamente sua resistência; vá plantando notícias, faça as coisas com cuidado, não se exponha. A dúvida sempre gera consequências e, pelo sim pelo não, ninguém deseja errar.
   A maneira como contei suas lições,   pode fazer com que os menos avisados pensem que o meu Mestre não era pessoa de boa índole, que era partidário dos ensinamentos de Maquiavel, mas, eu afirmo que não. Era das melhores pessoas que a humanidade teve a graça de conhecer. Pessoa afável, generosa, de personalidade sem sombras. Alguém dedicado ao bem comum e à felicidade dos seus semelhantes.  Seus comentários e ensinamentos baseavam-se no profundo conhecimento e análise das pessoas. Ele sabia que em nome de seus interesses as pessoas utilizam dos mais diversos métodos. Sua vasta cultura e  experiência que os mais de oitenta anos de vida nesta terra  proporcionaram,  fizeram com que ele não se iludisse com o que ouvia. Primeiro, dizia ele, analise sempre o que vem escondido nas palavras e nas ações. Jamais se deixe levar tão facilmente assim. Cuidado com os falsos anjos, os falsos profetas, com aqueles que rezam bem alto para que todos ouçam. Nem sempre o que aparenta ser mais piedoso realmente o é. Você sabe, propaganda sempre foi a alma do negócio e tem gente que é especialista em se promover, mesmo à custa de passar sobre os outros como um rolo compressor.
 Por isso, da próxima vez que ouvir alguém fazer comentários, críticas, afagos, seja lá o que for, pense bem a que ou a quem  isto atende, qual é o interesse escondido por trás das palavras. Ninguém atira pedra "em cachorro morto", finalizava ele.  De alguma maneira ou por algum motivo, estamos sempre de um lado ou de outro, temos nossos interesses.  Eu tenho os  meus, e você?




  

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