É noite. Tudo nublado. Faz frio. Muito frio. Ruas e avenidas estão quase desertas. Poucos carros transitam pela cidade, os últimos ônibus passam quase vazios. Os botecos fecham suas portas. É hora das criaturas da noite deixarem seus buracos...
E eles vêm furtivamente.
Ela está sozinha num ponto mal iluminado. Cansada, seus olhos se alongam. A espera é cansativa. Sente os ossos enregelarem. Um tremor insistente sob por todo o seu corpo. As mãos estão carregadas de sacolas e sua blusa fina não consegue protegê-la do frio. Ela sente medo, àquela hora, sozinha na avenida pode ser presa fácil das criaturas da noite...
Olha para todos os lados, para o chão. Escuta o barulho da água que rola para a sarjeta. Os pequenos seres da noite, agora donos da rua, já avançam sob a calçada. E são muitos, que asco!
Uma ratazana vem saindo vagarosamente de seu buraco. As duas se miram com horror. Para ratazana, aquele ser é monstruoso, quase dantesco. Completamente disforme, parece ter milhares de braços num corpo franzino, mal sustentando por pernas que mais parecem estacas. E os olhos então, imensos e cruéis. Mas ela precisa seguir em frente. De alguma maneira precisa buscar alimento e aquela não era mais hora para o estranho ser de muitos braços permanecer na rua.